O seu corpo estava cansado de uma longa semana de trabalho, mas o seu espírito estava relaxado pois tinha finalmente chegado o mais maravilhoso momento da semana: a Sexta-feira à noite.
Tudo estava bem e a noite teria decorrido normalmente não fosse a carta que a esperava quando chegou a casa.
Lá estava ela, na caixa do correio, à espera da sua chegada. E quando lhe pegou e os seus olhos percorreram as folhas de papel, impregnadas de significados distorcidos e vis, ela pressentiu a chegada de uma nova tempestade.
Ela não tardou.
Palavras voaram contra si e acertaram-lhe em cheio no peito, reabrindo uma ferida que tinha a muito custo fechado.
As lágrimas que lhe percorriam o rosto eram de sangue.
Como pode ainda doer tanto? Não era suposto estes sentimentos estarem guardados bem lá no fundo da memória, quase, quase esquecidos?
O facto é que não estavam.
E tudo parece aflorar quando estamos tão debilitados e exaustos da vida e do mundo e de tudo permanecer igual, independentemente dos nossos esforços para mudar a realidade em que vivemos.
Ela sentiu a força que a suportava, sabe Deus a que custo, esvair-se diluída nas lágrimas que lhe lavavam o rosto e que lhe foram pousar no colo quando caiu de rastos no chão e chorou até as lágrimas secarem, até o sangue parar de correr…
O último fio de sanidade que sustentava a fachada feliz que ostentava perante todos quebrou-se naquele momento. E uma vontade de gritar incontrolável corroeu-a obrigando-a a libertar os gritos que há tanto tempo tentava trancar no peito.
“Não aguento mais!! Estou farta desta dor, deste martírio de alma que me persegue e atormenta todos os dias! Eu só quero PAZ! Será que é pedir muito?!”
Deixou-se invadir pela sensação de esgotamento físico e mental que sentia e cerrou os olhos.
E ali ficou, presa no chão duro e frio envolta em lágrimas e dor até que o seu coração, agora desprovido de cor e calor, decida voltar a bater novamente…
Some other Sunset 